sexta-feira, 15 de abril de 2011

Entrevista a João Chaves - os 25 anos de Oceano Pacífico

As ondas hertzianas do 'Oceano Pacífico' partem hoje num cruzeiro pelo Mediterrâneo, que assinala os 25 anos do programa

Caso único em Portugal, talvez até na Europa, há 25 anos que o marulhar das águas do Oceano Pacífico chega às ondas hertzianas de domingo a sexta-feira, sempre às 22.00. E com excepção dos três primeiros meses de emissão, em que o apresentador foi Marcos André, a voz envolvente e profunda que se ouve é a de João Chaves. Apesar das mais de 7500 edições, João Chaves confessa: "Fico sempre nervoso cada vez que entro na cabine".

Ainda se lembra, como se fosse hoje, como tudo começou. "Aliás, lembro-me tão bem, tão bem, que só assim é possível fazer um programa durante tantos anos", afirma. "A minha grande paixão é fazer rádio e dedico-me todos os dias ao programa como se fosse a primeira vez", acrescenta.

Aliás, foi por isso mesmo que em Dezembro de 1984 aceitou o desafio que então lhe lançou Jaime Fernandes, director de programas da Rádio Renascença. "Queres agarrar aquele horário [22.00 - 00.00]", perguntou-lhe. A primeira reacção foi ficar "de pé atrás". "Na altura, a televisão detinha o monopólio da escuta e a rádio era pouco ouvida à noite e disse ao Jaime Fernandes que não havia qualquer hipótese de fazer um programa de sucesso àquela hora", recordou ao DN.

"Você é profissional ou não?", perguntou-lhe o então director de programas da Rádio Renascença. "Aquilo bateu-me cá dentro. Pedi dois dias para pensar num projecto que pudesse vingar no horário da noite", conta. E das várias coisas que pensou achou que o melhor era um programa de baladas, "que desse paz, tranquilidade, sossego e relaxamento às pessoas para descontraírem do stress no final de um dia de trabalho.
"A ideia foi aceite e no início de Janeiro de 1985 João Chaves passou a apresentar o Oceano Pacífico, no formato que ainda hoje tem. Do antigo ficou apenas o nome, dado por Jaime Fernandes, e o som das ondas do indicativo do programa.

Já assistiu a três mudanças radicais na rádio em Portugal. Começou com o vinil, passou pelos CD e, desde 2000 é tudo computorizado e as cabines são auto-operadas. Quer isto dizer que os locutores são responsáveis por todos os aspectos relacionados com o programa, incluindo a parte técnica. "O que faz com que o aperfeiçoamento também seja maior. E, sinceramente, dá-me muito mais gozo fazer rádio agora", afirma.

Ouve os seus programas depois de emitidos e antes de ir para o ar faz sempre um teste porque "o que mais me preocupa é o produto final chegar a casa das pessoas impecável, sem erros, sem defeitos", explica. "Ser locutor de rádio não é uma profissão normal. Aqui há muito mais responsabilidade e talvez por isso continue a dar-me gozo fazer um programa durante tantos anos", justifica.

"Dediquei-me com tal intensidade ao programa que é difícil passar sem ele. Por exemplo, durante as férias, chego a meio e já estou cheio de saudades", revela. Talvez por isso mesmo seja tão acarinhado pelos ouvintes. Recebe diariamente entre 200 a 300 e-mails, e faz questão de responder a todos. Antigamente, o contacto era por e João Chaves lembra que, "às vezes saía daqui às quatro e cinco da manhã só para atender os telefonemas dos ouvintes. Era uma loucura", recorda.

Não sendo um programa de actualidade noticiosa, poderia pensar-se que, muitas vezes, é gravado. Puro engano. "É sempre em directo. Gravado não gosto. O que sinto à noite na cabine não é a mesma coisa que sinto às três da tarde. São horários distintos: a maneira de pensar, o estado de espírito...". É claro que ao longo destes 25 anos já teve de gravar um ou outro programa. "Mas nunca fico satisfeito. À noite é mais calmo e as coisas saem naturalmente, com mais profundidade".

Em sinal de reconhecimento, a administração e a direcção de programas da Rádio Renascença decidiram organizar um cruzeiro, que partiu ontem de Barcelona, para comemorar as bodas de prata do programa de rádio mais antigo do País. "Era uma ideia que tinha há muitos anos", explica João Chaves ao DN, três dias antes de ver o seu antigo desejo tornado realidade.

Marina Marques, DN, 18/10/2009

Sem comentários:

Enviar um comentário