domingo, 20 de março de 2011

Tecnologias são mais-valia para quem trabalha na rádio

Ele entra no Estúdio 1da RFM (no edifício da Renascença, em Lisboa) com o à-vontade de quem era capaz de fazer o que faz de olhos fechados. Senta-se à frente do microfone e dos computadores com a naturalidade nascida dos 20 anos de prática a fazer o Oceano Pacífico. Recolhe-se e deixa-se perder. Só ele e a sua música calma, de domingo a sexta-feira, das 22.00 às duas da manhã.

João Chaves tem o jeito, a técnica, o segredo. Cresce no ar a cada dia que passa e abraça as novas tecnologias como uma mais-valia para a sua profissão. "Gosto de fazer a minha caminhada andando para a frente, nunca para trás", explica ao DN "a voz" que, ano após ano, se foi transformando em sinónimo das noites na RFM.

Por isso mesmo, nunca se revoltou contra as mudanças que revolucionaram a rádio ao longo do tempo. Acarinhou-as, em vez disso. Mimou-as. Usou-as para aprender um pouco mais e para dar novo impulso à sua forma muito particular de mergulhar de cabeça no Oceano Pacífico.

"Antigamente, entrava no estúdio e limitava-me a cruzar discos. Nada, na maneira de fazer as coisas, me dava grande margem de manobra", recorda João Chaves, para quem o digital "veio revolucionar, sem margem para dúvidas, o sistema radiofónico" do País. O que mudou, entretanto?

"Tudo", garante o veterano, a resposta rápida de quem já passou por várias etapas e sabe ser esta a melhor. "Hoje é o locutor que dá a voz aos noticiários, que escolhe e corta os alinhamentos à sua maneira, que garante que o programa sai certinho. Temos muito mais responsabilidades em todo o processo, é certo, mas isso é óptimo! Gosto ainda mais de fazer rádio agora do que antes, se é que tal é possível."

E João Chaves sabe do que fala. não é à toa que a sua forma de passar música e de viver a rádio atravessou gerações de ouvintes. Conhece os meandros da técnica como as suas próprias mãos. Maneja-a com mais e mais destreza à medida que os anos passam. As três revoluções tecnológicas por que passou contribuíram largamente para que isso acontecesse. "Três grandes revoluções" - como gosta de lembrar - que mudaram a história e ditaram as novas regras do jogo.

"Assisti à passagem do vinil para o CD e essa época, para mim, ficou marcada pelos comentários de que a rádio ia acabar ali mesmo, que não havia hipótese de fuga, que era o fim." Acontecia o primeiro momento de viragem decisivo. "Depois, o CD deu lugar aos computadores e novamente ficou a pairar no ar a ideia do 'Agora é que é! Aqui termina tudo' ", prossegue João Chaves, referindo-se à segunda etapa e à nova viragem que daí resultou. "E eis que o computador acabou, finalmente, por dar lugar às cabinas auto-operadas e o locutor passou a ter uma importância nunca vista, sobrepondo-se aos técnicos de som." Até hoje.

Por maioria de razões, dizer que o trabalho se tornou ainda mais aliciante a partir daí é pouco, fica aquém da realidade. "É verdade que tenho muito mais que fazer agora, a carga está bem mais pesada no que diz respeito a tarefas e a responsabilidades. Mas o prazer também aumentou na mesma proporção", justifica o profissional, que nem por um momento pensa em disfarçar o entusiasmo que o move. "Gosto verdadeiramente do que faço. Adoro esta profissão!"

Não é de estranhar, portanto, que a resposta seja só uma - e chegue rápida - quando alguém lhe pergunta qual a fórmula que tem garantido o sucesso do Oceano Pacífico ao longo de mais de duas décadas "O gozo." O segredo de tudo está no prazer que tem no simples facto de estar em estúdio a brincar com o som, a seguir o estado de espírito do momento. A fazer o Oceano Pacífico "com a certeza de que os ouvintes estão a gostar tanto das minhas músicas quanto eu. É uma sensação única, não trocava isto por nada."

Nem precisa, sobretudo porque as coisas resultam bem há 21 anos. É tudo uma questão de jeito e de prática. "E de saber tirar partido das novas tecnologias, de modo a conseguir passar a melhor imagem sonora lá para casa." O computador permite-lhe corrigir um ou outro erro, ter a certeza de que os alinhamentos resultam no melhor timming e ser parte activa em todo o processo - que gere sem a interferências de terceiros, ao seu próprio ritmo. "As noites da RFM não mudaram muito, a forma de fazer as coisas sim. E ainda bem! Porque cresço em cada programa."

Ana Pago/ DN, 01/03/2005

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