segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os Programas de Rádio Que Resistem ao Tempo

No ar há mais de uma década

Cinco Minutos de Jazz, Lugar ao Sul, Íntima Fracção, Oceano Pacífico, Grande Júri e Repórter da História são programas radiofónicos. Em comum têm um passado com, no mínimo, uma década

Não há receitas mágicas nem universais que determinem o êxito de um programa. É a conclusão que se pode retirar da análise de cada um dos programas de rádio que, em Portugal, têm resistido à erosão do tempo e se mantêm no ar, indiferentes à idade. Entre músicas e palavras, são um exemplo de longevidade.

Cinco Minutos de Jazz, Lugar ao Sul, Íntima Fracção, Oceano Pacífico e Grande Júri são, neste momento, os programas em exibição com mais tempo de vida, todos com mais de 13 anos. A rubrica O Repórter da História, com quase 25 anos, é outro exemplo de longevidade.

Mas, afinal, haverá ou não alguma explicação para a longevidade? Cada programa apresenta a sua própria versão, mas as reacções positivas dos ouvintes são um facto incontornável. Por outro lado, cada programa conseguiu criar, ao longo dos anos, um ambiente próprio a que os ouvintes se acostumaram e que continuam a procurar em cada emissão. Para os responsáveis por estes programas este é, sem dúvida, um dos factores mais importantes para o sucesso e continuação das emissões. O horário e a duração também ajudam a explicar a longevidade. Depois há as particularidades de cada um, que marcam a diferença e que fazem com que cada programa seja único.

As histórias de sucesso

Cinco Minutos de Jazz é actualmente, depois da suspensão do Em Órbita (na Antena 2), o programa de rádio mais antigo no ar. Tem 35 anos, apesar de ter estado suspenso entre 1975 e 1983. Trinta e cinco anos dedicados a divulgar a música jazz em Portugal. E "é a força, a longevidade e a verdade do jazz que explicam o sucesso e a longevidade do programa", afirma José Duarte, o seu responsável. Mas a fórmula, e principalmente a sua duração, é determinante. "As pessoas gostam porque não as maça" (o programa dura em média cerca de cinco minutos, de onde o nome). João Coelho, director da Antena 1, que emite o programa desde 3 de Junho de 1993, também salienta este facto. "O formato breve, sendo pedagógico e divulgador, é o ideal para inserir na grelha, devido à sua flexibilidade."

A longevidade é apenas um dos marcos do Cinco Minutos de Jazz. José Duarte gosta de acrescentar outro. No decorrer de todos estes anos, "o programa conseguiu o respeito pelo jazz. Nos anos 60 [quando o programa começou] as pessoas chegavam mesmo a ser malcriadas".

Rafael Correia, o autor e responsável pelo programa Lugar ao Sul, da Antena 1, prefere não falar do sucesso do programa, mas sim do seu valor intrínseco. "Sucesso têm as novelas", afirma. A mais-valia do programa reside, segundo Rafael Correia, no contacto com a verdadeira realidade do país, o "Portugal profundo", uma expressão que é agora muito recorrente, mas que quando o programa começou, há 21 anos, era ainda desconhecida. Para João Coelho, este é um programa importante na grelha da emissora para o fim-de-semana. O Lugar ao Sul é, juntamente com a Feira Franca e com o Margens D'Ouro, uma das peças da trilogia de programas deste canal dedicados ao contacto com o "país real".

Tocar as pessoas e estar atento

Para Francisco Amaral, autor e apresentador do Íntima Fracção, o mais importante é conseguir chegar às pessoas. E, "se há algum segredo para o sucesso do programa, é a ligação entre várias épocas de música e textos que tocam as pessoas". Por outro lado, é o próprio ambiente que se cria e que faz com que haja ouvintes fiéis, com gravações de anos do programa, acrescenta Francisco Amaral. Mas se calhar o sucesso do programa, da TSF, reside no mais óbvio: "É um programa sincero que gosto de fazer e se calhar por isso é que há pessoas que o ouvem."

Para João Chaves, o apresentador e responsável pelo programa Oceano Pacífico, no ar há quase 17 anos, a música é o ingrediente mais importante do programa que mantém na RFM e nele reside o seu sucesso. "Acima de tudo é a música que faz com que o programa tenha sucesso. Toco as músicas que as pessoas gostam", afirma, mas salienta a importância da sua locução, com o mesmo ritmo das baladas que escolhe e que, em conjunto, criam o ambiente próprio do programa. Depois, há o próprio horário. João Chaves tem consciência da importância deste facto, e refere-o: "É neste horário [à noite] que as pessoas estão mais receptivas." Pedro Tojal, director de programas da RFM, acrescenta mais alguns dados, salientando a importância de não se ficar parado no tempo. "É preciso estar sempre atento aos gostos das pessoas, até porque o programa, se calhar, já abrange duas gerações com gostos diferentes."


O programa Grande Júri é uma das imagens de marca da TSF, onde é emitido desde o primeiro dia da estação, que iniciou oficialmente as emissões em 1989. Carlos Andrade, um dos actuais entrevistadores, juntamente com Carlos Magno, afirma que é o "feedback" que recebe que faz com que o programa tenha razão de ser. Mas o que, concretamente, faz o sucesso do programa é mais difícil de explicar. "É um conjunto de ingredientes de natureza subjectiva", começa por afirmar Carlos Andrade, que é também o director da TSF. Entre esses, destaca a competência dos entrevistadores, os actuais e os anteriores, e o próprio factor história, pois "é um programa consolidado".

Outra medida do sucesso é, para Carlos Andrade, a boa taxa de aceitação dos convites pelas personalidades convidadas. Até porque sente que "os 'decisores' reconhecem imediatamente o nome do programa e esse é um dos principais motivos por que aceitam participar".

O Repórter da História não é propriamente um programa, é uma pequena rubrica de efemérides que não dura mais do que quatro minutos. No entanto, já está no ar há quase 25 anos. Para Zuzarte Reis, o criador do programa e autor dos textos, o que contribui para a longevidade desta emissão é precisamente a sua curta duração. "Não chateia", ironiza Zuzarte Reis. "O programa chama a atenção do ouvinte para os assuntos históricos sem entrar em grandes pormenores, não maçando desta forma os ouvintes", explica, agora a sério, Zuzarte Reis.

Ainda este ano (em Dezembro), também o programa Café da Manhã, que a RFM emite diariamente entre as 6h00 e as 10h30, vai completar uma década de emissões. E em Janeiro de 2002 será a vez do Bom Dia, de José Candeias, na Renascença, se juntar ao clube dos programas de rádio com uma história de uma década para contar.


B.I. dos Programas
Domingo, 22 de Abril de 2001

Cinco Minutos de Jazz

Antena 1

2ª a 6ª, às 00h15

Permanência. Para José Duarte esta é a palavra que caracteriza o Cinco Minutos de Jazz, o programa que já dura há 35 anos (embora suspenso entre 7 de Novembro de 1975 e 31 de Dezembro de 1983). Dedica-se a divulgar a música jazz em Portugal, até porque, para José Duarte,"o jazz é uma língua" que se pode ensinar. E desde 21 de Fevereiro de 1966 o programa já formou várias gerações. "O problema é que as sucessivas gerações namoram, mas não casam com o jazz", lamenta.

Lugar ao Sul
Antena 1

Sábados, das 09h00 às 11h00

No Lugar ao Sul as palavras reinam há 21 anos (a primeira emissão foi em Janeiro de 1980), sempre na Antena 1. As palavras são das "gentes" de Portugal, já que as do apresentador e autor do programa, Rafael Correia, são poucas. Cada sábado, ao longo de duas horas, Rafael Correia pinta mais um retrato da "verdadeira" realidade de Portugal, apresentando as histórias das vozes que normalmente permanecem longe da atenção dos meios de comunicação social. É um programa que procura descobrir e dar a conhecer os cidadãos do "Portugal Profundo".

Íntima Fracção
TSF

Domingos, da 01h00 às 03h00

Um programa também se constrói com silêncios e o Íntima Fracção, que acabou de comemorar 17 anos de vida (a sua primeira emissão foi a 8 de Abril de 1984 na Antena 1, mas desde 1989 que está na TSF), é um bom exemplo. "Pouco para dizer, muito para escutar, tudo para sentir" é o lema do programa de Francisco Amaral que conjuga a música, as palavras (com destaque para os textos lidos no programa), os sons e até os silêncios, um dos grandes inimigos da rádio. É um programa "ensonado", diz Francisco Amaral, já que não se dirige directamente às pessoas. Pretende antes ser um suporte para deixar voar a imaginação.

Oceano Pacífico
RFM

Domingo a sexta, das 22h00 à 01h00

Adormecer ao som das baladas do Oceano Pacífico é já um hábito para muitos portugueses. Desde Outubro de 1984 (primeiro na Renascença e a partir de Janeiro de 1987 na RFM) que João Chaves continua a recriar no seu programa um ambiente calmo, aquele que as pessoas procuram depois de cada dia de trabalho. As baladas que João Chaves coloca no ar permitem recordar e reviver outros tempos. É um programa para ouvir calmamente ou conjugar com outras tarefas. Ao critério do ouvinte.

Grande Júri
TSF

Sábados, às 12h00

Muitas vezes o programa ultrapassa a própria TSF, onde está desde o início da estação. Não é raro que excertos das entrevistas semanais sejam reproduzidos por outros órgãos de comunicação. É que se o Grande Júri não é por vocação um programa de entrevistas políticas, cerca de 95 por cento dos convidados são políticos. Actualmente, as entrevistas são conduzidas por Carlos Andrade e por Carlos Magno, mas já passaram pelo programa nomes como Teresa de Sousa, Júlio Isidro, Emídio Rangel, Miguel Sousa Tavares ou Margarida Marante.

Repórter da História
Rádio Renascença

Incluído no programa Boa Tarde, das 13h00 às 15h00

São apenas quatro minutos, mas que se repetem há quase 25 anos (começou no Outono de 1976). Todos os dias o repórter da História faz uma viagem no tempo e tanto pode recuar anos como séculos. E, em directo, faz a reportagem de mais um momento histórico. O repórter da História é um viajante no tempo que recria para o ouvinte todo o ambiente da época abordada em cada rubrica. E é essa encenação presente no programa que faz com que o apresentador seja um actor. Rui de Carvalho é o repórter de serviço.

Por Teresa Matos / Público, 22 de Abril de 2001

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Entrevista a João Chaves

Entrevista
JOÃO CHAVES, APRESENTADOR DA RFM
A voz tranquila do "Oceano Pacífico"

Ele é o homem do leme do “navio-almirante” da rádio mais ouvida do País. João Chaves comanda, após 25 anos de emissões ininterruptas, o mítico «Oceano Pacífico», na RFM. No dia 18 de Outubro apagam-se as velas de um quarto de século deste programa sem paralelo nas ondas do éter. Em entrevista ao «Ensino Magazine», o locutor revela quais são as canções da sua vida e partilha ainda com o nosso jornal os retalhos da vida de ouvintes que se apaixonaram, casaram e até evitaram o suicídio inspirados pelo som das suas «grandes músicas».

- Como é que nasceu o «Oceano Pacífico»?

Na Renascença FM, em 1984. O director da Rádio Comercial na altura, Jaime Fernandes, estação onde eu me encontrava, foi convidado para ingressar como director de programas na Renascença para tomar conta do canal FM da emissora católica e levou-me com ele. Já na Renascença FM, durante 2 meses, entre Outubro e Dezembro, fiz um programa durante a tarde de música pop. Entretanto, o «Oceano Pacífico» começara na mesma estação, mas apresentado pelo Marcos André. Em Dezembro, confrontaram-me com novo desafio: assumir a condução do «Oceano Pacífico», visto que o projecto não estava a resultar.

- Como reagiu a esse desafio

Existiam três rádios nessa altura: a Renascença, a Comercial e a RDP. Para além da televisão pública, que dominava as audiências a seu bel-prazer, beneficiando, em boa parte, da febre das novelas brasileiras. A rádio no horário nocturno praticamente não tinha expressão. As emissões eram, basicamente, com pouca música e muitas palavras. Isso preocupou-me. Perante a minha reacção, o Jaime Fernandes «picou-me», perguntando-me: «mas você é profissional ou não é?». Estava a iniciar-me na carreira, mas entendi que devia provar o que valia e agarrei o projecto com toda a força, entendendo-o como um desafio.

-Como idealizou o programa que ia apresentar?

As pessoas precisavam de um programa de rádio que lhes transmitisse paz e relaxamento e fosse o contraponto a um dia de trabalho longo e agitado. Lembrei-me de um programa integralmente de baladas. Propus a ideia ao Jaime Fernandes e ele mostrou-se entusiasmado. Havia um problema logístico que era não ter material discográfico para preencher duas horas de programa e houve a necessidade de pedir a colaboração às editoras. Também tive de me deslocar regularmente a Espanha onde me ia abastecer de música. Estava fechado o dia todo em discotecas espanholas a escolher músicas. Com o passar do tempo, passei a ter “stock” suficiente. O facto de as editoras começarem a lançar as colectâneas também acabou por minimizar esta dificuldade inicial.

- Esperava que 25 anos depois o programa se tornasse numa autêntica instituição?

Quando se criou o programa não se tinha em mente bater qualquer recorde de longevidade ou audiência. O programa cresceu naturalmente. Inicialmente tinha duas horas de emissão e depois foi aumentado mais 1 hora e agora decorre das 22 horas às 2 da manhã.

- O «Oceano Pacífico» completa um quarto de século de emissões no próximo dia 18 de Outubro. Nestes anos tem, certamente, através de cartas, telefonemas e e-mails, experienciado inúmeras histórias de vida. Quer partilhar connosco algumas?

Sei de pessoas que se conheceram, casaram e tiveram filhos ao som do programa, nalguns casos, já há mesmo netos.

- Já o convidaram para padrinho?

Isso não, mas há uma história de um casal que namorava à beira-mar ao som do «Oceano Pacífico», que me convidou para fazer a banda sonora do casamento deles. Fiz, com muito orgulho essa selecção e, felizmente, correu tudo bem durante a cerimónia na igreja. Também recebo e-mails de pais que, por iniciativa própria ou dos médicos, ligam a rádio no programa nos momentos prévios ao nascimento dos filhos. Segundo me dizem, o que parecia um parto difícil, acaba por tornar-se normal.

- E o reverso da medalha. Os casos mais dramáticos que lhe tocaram?

Casos de tentativa de suicídio que me foram comunicadas através de telefone ou de carta. Cheguei a estar ao telefone madrugada dentro com pessoas que me diziam ir terminar com a própria vida. Há muita gente carente e sozinha, e o «Oceano Pacifico» puxa muito à recordação. Lembro o caso de um senhor que me ligou para se despedir porque ia suicidar-se e ouvia-me todos os dias. Tentei demovê-lo, ao telefone. E falei-lhe de um disco do Richard Harris, que eu raramente passava e que transmitia uma mensagem de esperança sobre um futuro mais risonho. Disse-lhe que ia dedicar-lhe a música no programa, mas o senhor, ainda assim, disse-me que a sua decisão era irreversível. Três ou quatro dias depois, recebo um telefonema da mesma pessoa a dizer-me que depois de ouvir a tal música recuou nas suas intenções. Dois ou três anos decorridos, o mesmo indivíduo enviou-me uma carta a dar conta que estava a viver na Suiça com uma senhora que conheceu em Portugal e que se encontrava muito feliz. São casos destes que me fazem sentir muito orgulho.

- A rádio, por não possuir imagem, tem um lado místico associado à voz. São muitas as pessoas que querem conhecer pessoalmente o João Chaves?

Hoje, a curiosidade é menor porque existem fotos no site da RFM, mas continua a haver muitos ouvintes curiosos de saber como é a pessoa por detrás da voz. Antigamente as pessoas imaginavam-me à imagem delas, como elas queriam que eu fosse – louro, de olhos azuis, com 2 metros de altura, etc. Cheguei a ter pessoas aqui à porta da rádio, no Chiado, com a expectativa de me conhecer. Algumas delas chegaram a dormir no exterior da RFM para me apanhar à saída ou à entrada.

- Foi confrontado com alguma situação mais embaraçosa?

Fiquei com a impressão que as pessoas pensam que pelo simples facto de apresentar um programa de rádio sou uma pessoa inacessível. No outro dia, o segurança passou-me uma chamada de alguém que queria falar comigo: «Queria falar com o João Chaves», disse-me uma senhora. «Sou eu», respondi. Ao que ela diz: «É? Mas você também atende telefones?» …São situações como estas que acabam por, sem necessidade, nos embaraçar um pouco.

- Das músicas que passa no seu programa consegue eleger as suas favoritas?

Houve músicas que passavam no início do programa e agora não toco, por forma a refrescar e actualizar o «Oceano Pacifico», mas assim de repente posso escolher os The Korgis, «Everybody’s got to learn sometime», os Rockwell, com «Knife» e a Judy Boucher, com «Cant be with you tonight». Estas são, no fundo, as minhas músicas.

- O «Oceano Pacífico» tem uma webrádio, 24 horas por dia, desde Novembro do ano passado. Não há o risco de roubar público à emissão radiofónica nocturna?

O risco é relativo. Os ouvintes na Web não são os mesmos da rádio convencional. A rádio tem que ir ao encontro das pessoas e não o contrário. Hoje em dia com as novas tecnologias nos locais de trabalho é muito mais fácil as pessoas terem acesso a um programa de rádio através da internet do que terem um rádio em cima da secretária. Para grande surpresa minha, as audiências recentes indicam que a webrádio tem 140 mil ouvintes por mês.

- O programa que apresenta está muito conotado com a noite. A webrádio não desvirtua este conceito?


Confesso que achava impensável ouvir-se o «Oceano Pacífico» às 10 da manhã, mas os indicadores que temos é que esta iniciativa tem permitido alargar o espectro de ouvintes que nos preferem. E como é um programa de baladas, a pessoa pode estar a trabalhar e a ouvir a webrádio sem se desconcentrar, ; com a particularidade de não ter pausas para informação ou publicidade.

- A RFM é considerada a «rádio perfeita». Não pára de subir em audiências e de ganhar novos públicos. O facto de o «Oceano Pacifico» estar inserido numa rádio de sucesso ajudou a projecção e notoriedade do programa?

O «Oceano Pacífico» foi, desde sempre, um programa de sucesso. Com sinceridade, creio que foi mais o «Oceano Pacífico» a ajudar a RFM do que o inverso, especialmente no final dos anos 80. Tratou-se de uma combinação perfeita e que se tem revelado eficaz nas audiências. A RFM é um caso único, ao nível da Europa e quase arriscaria a dizer no mundo inteiro. A rádio cria hábitos, as pessoas gostam e vão ficando. Passam palavra e isso faz crescer o projecto. Os números da RFM, rádio e na internet, visto que temos 3 canais de webrádio (Anos 80, Clubbing e o Oceano Pacífico), são assustadores. A oferta de produtos que disponibilizamos é vasta o que permite aos ouvintes escolherem o que mais se adequa às suas preferências.


- A RFM continua a ser dirigida e pensada para o target dos 25 aos 40 anos?

Essa faixa já foi alargada até aos 45 anos, especialmente por termos concentrado a música que passamos nos êxitos dos anos 80 e 90. A RFM só toca a música que as pessoas gostam. Por vezes somos acusados de não tocarmos determinados artistas, mas não é por acaso. Não é possível correr o risco de passar uma música que 500 ouvintes gostam e 5 mil mudam de posto.

- Não existe o risco de se cair na monotonia com a repetição de músicas?

Existe, mas é relativo. Eu sou da opinião que quanto mais repetimos uma música, mais o público gosta. Quando são músicas novas, para refrescar um pouco a emissão, temos de ter a certeza que elas vão ao encontro do gosto de quem nos ouve. A par disso renovamos com regularidade os “jingles” que usamos em antena. Isso é um segredo para manter a rádio sempre actualizada.

- A rádio M80, do grupo Media Capital, está a ter uma boa aceitação. Pensa que estamos perante uma tentativa de reeditar o «Oceano Pacífico» numa rádio concorrente?

Acho que a M80 foi uma boa aposta do grupo Media Capital. O problema é que a música só não chega. Os locutores têm que encaixar nos ouvintes e penso que os profissionais que apresentam as emissões da M80 demonstram um estilo demasiado forçado. A própria música que eles tocam não é muito seleccionada. Eles para preencherem 24 horas de emissão têm que tocar tudo, seja bom ou mau, o que é preciso é ser datada dos anos 80. Creio que falta ali qualquer coisa. A RFM, por seu turno, escolhe criteriosamente o que passa, até porque no jogo das audiências não se pode facilitar.

- Não tem feito mossa nas audiências?

A M80 atinge, no máximo, 4 por cento, enquanto a RFM tem 16 por cento. São realidades incomparáveis, até porque nós tocamos, especialmente durante o dia, muita música recente, ao contrário da M80.

- Ultrapassou diversos períodos na rádio. Agora na era digital, as emissões são feitas quase sem a intervenção humana?

Não, de todo. Aliás, se assim fosse, não dava gozo. Eu passei por três fases muito importantes na rádio: o fim do vinil, o advento dos cd’s e depois o digital. Pode parecer um contra-senso, mas creio que é muito mais entusiasmante fazer rádio agora do que era antigamente. Há pormenores que agora fazem a diferença. O computador que temos na cabine permite-nos introduzir uma mistura das músicas. A sincronia é perfeita, porque eu deixo de falar e a música entra logo de seguida, sem atropelos, sem espaços mortos e sem falar em seco. A rádio atingiu hoje uma certa perfeição fruto da introdução do digital.

- As sucessivas mortes anunciadas da rádio foram um manifesto exagero, parafraseando um célebre aforismo do Mark Twain?

A rádio tem que sobreviver sempre, seja em que suporte for, porque tem seguido sempre a evolução. Este meio é, e será, em casa, no trabalho ou no automóvel, a companhia das pessoas. Penso que o futuro da rádio está na internet e por isso é que a RFM está a procurar antecipar essa tendência com a webrádio que já aqui falámos. Estou em crer que mais 10/15 anos e tudo convergirá para os computadores.

- E algum dia teremos rádio com imagem?

Isso seria um perfeito disparate. Seria matar a magia que está associada a este meio. Rádio é para se ouvir num aparelho ou num computador.

- Os downloads ilegais estão destruir a indústria musical. Como analisa esta situação?

Defendo que os downloads devem ser pagos. A indústria musical encontra-se em grandes dificuldades. As principais editoras abandonaram Portugal. E para além dos downloads ilegais, acontece que a música que está na moda é a mais antiga. Ou seja, não é preciso comprar porque as pessoas já a têm.

- Defende a criminalização das práticas que lesem a discográficas?

Tem que haver regras. Na RFM também compramos música. O justo é que toda a gente que quer ter acesso a um produto o tenha que comprar. Chegámos a um ponto extremo em que temos verdadeiros especialistas em «sacar» músicas da internet. É uma prática que se tornou um negócio.

- Continua a existir um défice de música portuguesa nas ondas do éter?

A situação melhorou bastante, muito por causa da lei das quotas. Teve o mérito de fazer lançar novos artistas da música portuguesa e fomentar projectos musicais de vários artistas em colaboração, o que antigamente não se via. Por exemplo, quando vou a Espanha por lá só se canta música deles. Estou em crer que dentro de uns anos não vai ser preciso existirem leis para cumprir esse objectivo. Naturalmente, esse hábito vai instalar-se em Portugal e a música nacional vai estar no ouvido dos portugueses, depois de quebrados alguns preconceitos que ainda existem e desde que, obviamente, o produto musical tenha qualidade. Isso, para mim, é característica fundamental.

- Muitos dos seus ouvintes são estudantes. Como vê, de forma distânciada, as turbulências no sector do ensino?

Já deixei de estudar há muito tempo e temo ferir alguém se me alongar nas considerações, mas genericamente posso declarar que os problemas do ensino em Portugal não são de agora. Eles sempre existiram. Assisti antes do 25 de Abril a manifestações que terminaram em duros confrontos entre os estudantes e a polícia. O enquadramento mudou, é certo: o regime é outro, há mais liberdade por parte dos estudantes para reivindicarem as suas exigências, etc. É salutar que assim seja, até porque, ninguém duvide, o futuro do país está nos estudantes.

- Estão em causa os interesses nacionais...

As forças em contenda, o governo e a massa estudantil, dificilmente dão o braço a torcer. Mas estou em crer que, mais tarde ou mais cedo, as grandes reformas no sector vão mesmo acontecer. Os próprios governantes foram estudantes na sua juventude. É, pois, importante que prevaleça o bom senso para resolver os focos de tensão. Temos o crónico problema de que a nossa intervenção em atalhar os problemas peca sempre por tardia, por isso é que teimamos em não sair da cauda da Europa em indicadores fundamentais.

Nuno Dias da Silva

João Chaves nasceu a 14 de Dezembro de 1954, em Sines, no litoral alentejano, mas fez toda a sua infância e adolescência em Lisboa. Desde sempre, ser locutor de rádio foi o sonho que acalentou. Concluiu o liceu, mas não prosseguiu os estudos até à faculdade, «julgando que o secundário era suficiente». Trabalhou com o pai até entrar para a Rádio Comercial, em 1982. Em 1984, assume o comando do «Oceano Pacífico», inicialmente no FM da Rádio Renascença, tendo o programa transitado em 1987 para a recém-nascida RFM, que ficou conhecido como o outro canal da Renascença. Quando lhe perguntam, quando pensa abandonar o programa, João Chaves afirma que esse dia vai chegar, «quando se reformar», mas admite que «é capaz de custar um bocadinho». 18 de Outubro é a grande data. Os 25 anos de emissão do «Oceano Pacífico». O programa das festas das comemorações arrancou com o espectáculo de Elton John no Atlântico e vai terminar com um cruzeiro pelo Mediterrâneo.

Director Fundador: João Ruivo Director: João Carrega Publicação Mensal Ano XII Nº139 Setembro 2009

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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Oceano Pacifico

No dia 15 de Outubro de 1984 nasceu o programa Oceano Pacífico, integrado na grelha da Rádio Renascença.

Teve como primeiro apresentador Marcos André a que se seguiria João Chaves, em Dezembro de 1984.

O programa foi depois integrado na grelha de estreia da RFM.

A história do "Oceano Pacífico":

Citando Público On-Line:
"A Génese do Sucesso

O Oceano Pacífico estreou-se a 15 de Outubro de 1984, na Rádio Renascença, com apresentação, nos primeiros meses, de Marcos André, depois substituído por João Chaves. Em Janeiro de 1987, passa para as noites da Renascença FM, que viria a chamar-se RFM. O nome deve-o ao director de programas da altura, Jaime Fernandes, que, ao olhar as águas calmas do Tejo, se lembrou do Oceano Pacífico. Em antena de domingo a sexta-feira, entre as 22h00 e as 2h00, o "barco" que João Chaves comanda leva a bordo baladas de todos os tempos, que já teve oportunidade de compilar em três CD, editados em 2000, 2002 e 2003. Na bagagem seguem também memórias de histórias engraçadas, como a de uma ouvinte que pediu ao locutor para escolher a música com que entraria na igreja, no dia do casamento, ou a de uma mãe que, na maternidade de Braga, deu à luz ao som do Oceano Pacífico."